terça-feira, 3 de junho de 2008

O vazio de sentido e a busca por re-significação!*

No momento atual da sociedade, o mercado começa a tomar corpo violentamente, perpassando todas as dimensões da pessoa humana. Ele perverte, assim, todas as possibilidades que haviam no ser humano, criadas para que ele pudesse verificar o vazio que está constantemente presente em sua raiz. O ser humano é constituído de um vazio que jamais será preenchido plenamente. No entanto, o mercado vende um ‘produto’ que parece exato para superar esse vazio. O ser humano, na ânsia por uma realização e superação desse vazio, se mobiliza violentamente atrás desse produto, muito bem vendido pelo discurso, pela propaganda, pela idealização da mídia. As possibilidades humanas, esquecidas atualmente, nunca prometeram um preenchimento total do vazio humano. Propunham, sim, dar um significado a esse vazio.

No âmbito religioso, com a teologia da prosperidade, também há uma tentativa de se preencher todo vazio humano. Pretende-se, assim, retirar do ser humano algo importante dele, sua angústia. Quando a psicanálise coloca que há no ser humano um vazio, um desejo, uma busca por um objeto para re-significar seu viver, mostra também que não há jeito de ser vencido, preenchido, completado, mas re-significado. Fica-nos uma questão importante para a sociedade de hoje. O que fazer com a vida religiosa, o que fazer com as instâncias de educação, com os ideais políticos, de democracia, de participação, de direitos humanos? As dimensões ética e religiosa têm cada vez menos espaço hoje. A vida religiosa tem sentido? O político, o filosófico, tem sentido? A verdade é que a vida religiosa, que foi construída sobre pilares hoje esquecidos, está agonizando. Das Congregações que já foram criadas, 70% já não existem mais. Isso nos diz alguma coisa? Talvez nos aponta para a urgente necessidade de reinventar constantemente o ‘ser religioso’.

E a família, ou a concepção tradicional de família, ainda tem sentido hoje? Como ‘afrontar’ os apelos de um mercado que propõe piamente um ‘preenchimento’ para todo vazio humano? Como a Vida Religiosa pode ainda ser uma opção dos jovens diante de tantas propagandas desenfreadas de promessa de ‘felicidade’ e ‘realização plena’? O ‘produto exato’, milagroso, que promete acabar com o vazio humano, gera um vazio maior ainda: a depressão, a decepção e o sofrimento. Desejo é algo que se procura a vida inteira, é uma busca constante. No entanto, o mercado pós-moderno oferece um ‘gozo’, uma satisfação completa, uma realização, muito mais do que apenas uma promessa de satisfação. Esse ‘gozo completo’, porém, é impossível. Então, a decepção e o sofrimento são conseqüências naturais. Essas ‘possibilidades’ de se viver plenamente um gozo se apresentam freqüentemente, até mesmo nos ambientes de trabalho.

Cabe perguntar-se: vivemos em busca de um gozo ou de um desejo? A busca por uma realização total, plena, será sempre em vão. Ao buscar desenfreadamente um ‘gozo’, o ser humano se dá conta que perde seu tempo, o que o joga em uma situação de sofrimento e decepção. Um sujeito frustrado, decepcionado, pensa sempre que ‘perdeu seu tempo’, visto que anseia sempre por uma satisfação total de suas buscas, o que sabemos ser impossível ao ser humano. Isso ocorre também no casamento. Enquanto o sujeito não se dá conta que a noite de núpcias não é o casamento em si, sua decepção será certa. Dar-se-á conta de que terá de viver um calvário pelo resto da vida. A angústia, própria do ser humano, não pode ser algo que deprime, mas uma força que o faça buscar continuamente, ciente de que não há saída, mas há caminhos a serem trilhados. A busca do narcisista é um sacrifício inútil por buscar em si mesmo aquilo que jamais encontrará: a realização, o ‘gozo pleno’, completo. Todos somos chamados a viver na busca de caminhos voltados para a realidade transcendente, sabendo sempre que nela não encontramos a satisfação plena, o ‘gozo total’, o preenchimento completo do vazio existencial, mas poderemos encontrar uma re-significação, um sentido para as buscas, para a caminhada, para a própria vida.
(j.z)

* Síntese a partir de uma exposição do prof. Willian César – PUC-BH

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